Só você sabe o que é ser você.
No dia 31, a reunião na varanda se iniciou cedo e eu sabia que não havia hora para terminar. A geladeira cheia de cerveja mantinha os visitantes cada vez mais animados, contando casos recentes, piadas, fazendo brincadeiras e planos para o ano de 1991.
Procurei participar daquela reunião. Mas, rapidamente o cansaço me dominou e retirei-me para o quarto. Não conseguia achar graça nas piadas, não tinha casos para contar e muito menos planos para o novo ano. Além disso, não me livrara do abatimento que sempre me fazia companhia nesta época do ano.
À noite, a alegria era maior. Voltei a estar com eles, mas não esperei a virada do ano. Arranjei uma desculpa qualquer, alguma dor de cabeça oportuna, um cansaço, e fui para o meu quarto e fechei a porta - ato que não tenho o costume de fazer. Era um recurso para evitar as brincadeiras que costumamos promover quando nos reunimos.
Demorando dormir, ouvi a comemoração da entrada do novo ano por toda a cidade. Em algumas casas, o foguetório era intenso. Na rua, alguns carros passavam buzinando e grupos de pessoas caminhavam cantando e rindo. Da varanda de nossa casa, as vozes já alteradas pela bebida chegavam aos meus ouvidos.
Uma sensação familiar foi surgindo. A tristeza aumentava mais e mais. Os momentos terríveis pelos quais havia passado afloravam. O cansaço de tanta luta se fez presente. Estava certo de que, a cada dia, a situação tendia a piorar e eu, agora mais do que nunca, não encontrava forças para enfrentar um futuro desconhecido e sombrio.
As horas passavam. As vozes na varanda iam escasseando com a saída dos sobrinhos para outros programas.
Mais uma vez indaguei ao nosso Pai como seria o meu futuro. A ausência de uma resposta imediata me levou ao choro silencioso. Como desejava que meu fim tivesse acontecido abruptamente! Como num acidente de carro, por exemplo. As lágrimas molhavam o travesseiro. Havia tomado um calmante antes de me deitar, mas não surtiu efeito. Tinha a impressão que iria ficar louco.
Algo então me passou pela cabeça.
No escuro, tendo apenas a claridade da lua entrando pela janela aberta, sentei-me na cadeira, próxima à mesa. Chorando e com as mãos tremendo, abri a terceira gaveta, retirei do fundo o objeto que estava embrulhado em flanela e o coloquei em cima da mesa. Tinha a impressão de que o coração iria saltar do peito. Pela primeira vez em minha vida pegava em uma arma. Não sabia o que fazer. E agora? - indaguei a mim mesmo sem saber como proceder. E se estiver travado? Não tinha a menor ideia de como fazer aquele troço funcionar. Qual o melhor alvo? A fonte? Testa? Peito? Ouvido? E se errar? Depois de instantes de angústia insuportável, guardei a arma.
Voltei para a cama, mas a tremedeira, o desespero e o choro ainda continuavam. Dentro de mim, uma voz gritava em alto e bom som: Seu fraco, nem para isso você presta!
No dia seguinte, todos estávamos de ressaca. Os outros, de bebida e farra, e eu...
Fabinho