segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Eu, que sempre tive medo do escuro, de morar sozinho, hoje vivo só. A ironia dessa frase ecoa por todos os lugares da minha casa, um lugar que aprendi a chamar de lar. O silêncio, que antes me assustava, agora é a tela em branco que me aterroriza com assombrosos pensamentos e devaneios.
Nas noites em claro, choro, imaginando o desconhecido, a solidão é uma visita indesejada. O medo, uma sombra que se projeta em cada canto abandonado do meu ser. Um desafio.
Cada estalo da madeira, cada som vindo do corredor, um gatilho para a ansiedade.
A ausência de conversas no café da manhã, o eco da minha própria voz parece estranho.
Venho confrontando o silêncio do ambiente, o barulho dentro de mim, as inseguranças, os medos que eu antes conseguia abafar com a presença de mais alguém.
Aprendi a dançar sozinho, a cozinhar para um, a escolher a trilha sonora dos meus dias, a organizar meus livros não pela lógica, mas pelo coração.
O medo de chorar e ninguém ouvir, já não é medo é hábito.
Hoje, quando fecho a porta, não sinto mais o pavor do vazio.
A solidão não é ausência, mas uma única presença, a minha própria.
Talvez, a maior contradição da minha vida.

Véu que se Desfaz

Há dias em que o mundo parece suspirar mais profundamente, como se a própria atmosfera carregasse memórias invisíveis. 27 de outubro é um desses dias — quando o véu entre os mundos se torna tênue como papel de seda, e as almas dos nossos companheiros de quatro patas, retornam para nos abraçar com a ternura etérea do amor que transcende a morte.
Não é coincidência que sintamos, neste dia, uma presença familiar roçando nossas pernas, um calor inexplicável no peito, ou que nossos olhos se voltem instintivamente para aquele canto da casa onde eles costumavam descansar. As almas dos animais não conhecem fronteiras, e hoje, elas atravessam dimensões para nos lembrar que o amor verdadeiro jamais se extingue.
Lembro-me da Juliana, da Jussara, do Jacinto, com seus olhos cor de mel que pareciam guardar todos os segredos do universo. Suas patas deixaram marcas não apenas no chão, mas na textura da nossa alma. Hoje, sinto que eles caminham ao meu lado novamente, invisíveis mas inegávelmente presentes, com aquela lealdade que nem a morte conseguiu quebrar.
Posso jurar que ouço novamente aquele som suave, reconfortante, eterno, vindo de lugar nenhum e de todos os lugares ao mesmo tempo.
Promessa cumprida a cada amanhecer. Latidos de amor e esperança que despertavam a casa inteira. Hoje, quando nosso sino dos ventos canta, sei que são eles brincando entre as dimensões, saudando seus humanos eternamente amados.
Neste dia sagrado, não precisamos de altares ou cerimônias elaboradas. O ritual acontece na simplicidade do coração que se abre:
Quando paramos diante da tigela de água que ainda guardamos,
Quando nossos dedos acariciam o ar onde eles costumavam estar,
Quando sussurramos seus nomes como mantras de saudade,
Quando sentimos aquela presença familiar e não a questionamos,
Eles estão aqui. Não como fantasmas, mas como essências puras de amor despidas da dor, livres das limitações do corpo, mas carregando intacta toda a devoção que um dia nos ofereceram sem reservas.
Os animais nos ensinam uma linguagem sem palavras: a comunicação do coração puro. Eles nos amam sem julgamentos, sem condições, sem a complexidade neurótica que nós, humanos, frequentemente trazemos aos relacionamentos. O presente da presença eterna.
Hoje, não choramos a ausência, celebramos a presença eterna.
Porque quem ama de verdade nunca parte completamente. Fica na forma como olhamos o mundo com mais compaixão, na maneira como estendemos a mão para outros seres vulneráveis, no jeito como nosso coração se expande para acolher novos amores.
Eles nos visitam não para nos entristecer, mas para nos lembrar: o amor que compartilhamos é real, transformador, eterno. E neste dia especial, quando o véu entre os mundos se desfaz, eles sussurram em nossos ouvidos a verdade mais bela de todas:
"Nunca nos separamos realmente.
Apenas mudamos de forma.
Continuamos amando vocês de um lugar onde o amor é infinito."
Que hoje seja um dia de gratidão, de presença, de amor sem fronteiras.
Sintamos, sem medo, a visita suave dessas almas queridas, e honrá-las vivendo com a mesma pureza e intensidade com que elas nos amam.
Em memória eterna de todos os companheiros de alma que nos escolheram como família.
Jacinto, Jussara, Juliana, não são a minha vida inteira, mas com certeza a melhor parte dela.

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Mais uma, menos um.

Adriana,
faz tempo que nossos caminhos não se cruzam, mas o afeto não conhece distância. Você é daquelas cuja luz não se apaga, dessas que estão guardadas na pele da memória, acesa num canto bonito do coração.  
A sua vida foi boa e generosa: feita de risos compartilhados, de boas companhias, de parentes e amigos que te cercaram com presença e calor. Você fez do mundo um lugar mais leve, e isso ninguém te tira e, agradecemos muito.
Agora, o passo muda, o bem que você plantou continua trabalhando em silêncio, alargando o horizonte de quem te ama. Sustentando a paz mansa de quem cumpriu o que veio cumprir e a alegria serena de permanecer em tudo aquilo em que se envolveu.  
Obrigado por ser farol, por ensinar delicadeza mesmo nos dias difíceis, sei bem como isso não é fácil.  
Esteja onde caibam a sua leveza, seus sorrisos, sua doçura.
Aqui, a saudade te guarda; lá, que a claridade te abrace.  
Com carinho e gratidão,
Clovis e Lila 

quinta-feira, 16 de outubro de 2025

E... de novo, até ser o último

Lilila,

Escrevo porque te devo a verdade que mora aqui dentro, ainda que me doa. Você sempre esteve ao meu lado — nem sempre como apoio, é verdade, mas sempre com um amor que eu reconheço e guardo com gratidão. Esse amor foi casa para mim por muito tempo.

Hoje, cheguei a um ponto em que carrego mais falhas do que forças, e isso tem pesado sobre nós. Não digo isso para buscar pena, nem para te ferir, mas para assumir que o que tenho sido ao teu lado não te faz justiça. Você merece leveza, riso solto e a paz de quem caminha ao lado de alguém que soma, e não de alguém que te puxa para a sombra das minhas frustrações.

Quero que você seja feliz — de verdade. A idade não apaga a possibilidade de recomeços; ela só os torna mais conscientes. Se afastar é a escolha mais difícil que já fiz, mas é também a mais honesta que consigo te entregar agora. Carrego comigo a gratidão por tudo o que vivemos, pelo que aprendi, pelo amor que recebi — e que, do meu jeito imperfeito, tentei devolver.

Se um dia as nossas memórias te visitarem, que o façam com ternura. Eu vou seguir buscando o que me falta, trabalhando o que preciso, para que o que ficou em nós seja o melhor do que fomos.

Cuide de si. Você merece o que há de mais bonito.

Com muito amor Covinho,

Obrigado por ter caminhado comigo até aqui. Reconheço o teu amor e o levo como uma luz. Hoje, com sinceridade, percebo que a minha presença tem pesado mais do que somado, e isso não é justo com você. Quero te ver bem, em paz, livre para recomeçar — a felicidade não tem idade.


Niver pai

No céu onde minhas estrelas tecem memórias eternas,
Brilha uma luz centenária.
Seu eco permanece, no vento sussurrado em folhas antigas.
Mãos que moldaram caminhos de amor,
Ensinaram lições que o tempo não apaga.
Em cada riso meu, há um traço do seu,
Em cada sonho, o fogo que você acendeu.
Cem velas imaginárias iluminam o vazio,
Seu legado é chama que nunca se extingue.
Rio que flui em minhas veias,
Raiz profunda de quem eu sou hoje.
Sempre presente na alma,
Celebro sua vida.
O amor transcende, e eu o sinto, infinito.
Com saudades que dançam com as minhas estrelas.
Brindo às minhas asas, prontas para voar.
Meu pai, minha estrela, para sempre no coração.
Não me esqueça e, saiba... jamais será esquecido.

sábado, 4 de outubro de 2025

Privilégio

Lilila, Juninho, Janaína, Jacinto, Jussara e Juliana.

Suporto com a maior leveza, uma vida inteira de saudades.
Afinal, é um privilégio amar vocês por todos os seus dias.

Existe uma oração...

Você simplesmente vai para um lugar tranquilo e, diante da presença de Deus, diz:
"Eu não sei".
Eu não sei o que fazer, eu não sei para onde ir, eu não sei como lidar com essa dor, eu não sei qual é o próximo passo.
E então, com a pequena fé que ainda resta em você, diga:
"Mas tu sabes."
E deixe nas não d'Ele. Porque Deus ouve cada oração!


Tomara!!!!!!!!!!!!!!!!