Definitivamente cansei.
Quase 60 anos. Amores, queridos, amigos de infância, amigos recentes, eventuais conhecidos. Parecem todos apenas repetir a mesma melodia monocórdia: “me sinto infeliz”.
Tenho vontade de usar um palavrão. Não vou fazê-lo porque sei que não soaria de forma natural a quem possa estar lendo isso, nesse momento. Uma questão de respeito. Mas é apenas o que tenho vontade de registrar.
Ora, ninguém é feliz como se isso fosse o natural da vida. Ninguém ganha a felicidade de herança, ninguém a recebe porque é justo, ninguém a tem de presente porque é bom filho ou filha, bom pai ou boa mãe, bom marido ou boa esposa dentro dos valores mais tradicionais e aprovados pelo social.
Prá ser feliz é preciso querer ser feliz.
Me irrito cada vez mais com mulheres – sejam jovens ou com mais de 50 como eu – que lamentam a falta de amor dos maridos, que reclamam da rotina do cotidiano, que dizem que os empregos não reconhecem seu valor, que querem morrer porque dependem de empregadas, porque se sentem acima do peso mesmo que estejam cinco quilos abaixo, que se sentem infelizes porque não podem comprar todos os lançamento da moda inverno/verão, que se sentem frustradas porque nem todos os homens as olham mais com olhos de desejo.
Me irrito cada vez mais com homens já adultos – desculpem, mas tenho conversado pouco com vocês – que não sabem o que fazer com casamentos onde não há mais desejo, não há mais admiração, mas onde sobrevive o ciúmes, a necessidade de posse, o contínuo ter que dizer prá onde vai e a que horas chega, o ter que desligar o celular para ter um minuto de sossego. Não tenho mais paciência com homens infelizes desejando o carro do ano, um imóvel a mais, um dígito a acrescentar na conta bancária.
Sei e admito que é preciso tempo para as pessoas entenderem.
Mas não é possível que seja tão difícil perceber que para ser feliz não basta seguir normas de bom comportamento, não basta perseguir o sucesso profissional, não basta ganhar dinheiro, não basta exigir que os filhos sejam vitoriosos, não basta se satisfazer dizendo que se tem ideais, nem herdar a fé religiosa familiar que tenta se manter por gerações. Sequer basta – me perdoem o sarcasmo – ler todos os livros de auto-ajuda que têm deixado muita gente rica.
Cada um é feliz a seu modo, com certeza. O que significa que ninguém é feliz por imitação. Indo mais a fundo: ninguém é feliz enquanto se apegar aos valores que lhe foram apresentados, de forma definitiva, como proteção de conduta, como indicação de caminho, como manual de alegria, como certeza e garantia de futuro.
Para ser feliz é preciso arriscar. Expor-se ao erro. Dar-se ao direito de sentir o que nem sempre os outros disseram que era adequado sentir. Permitir-se ousar. Pouco se importar com as opiniões alheias. Saber que o melhor é ser aquilo que se é, sempre se pagando o preço que se há de pagar. Felicidade não é algo que dure para sempre. Mas para quem arrisca, em geral dura muito mais do que para quem imagina que a vida é previsível, planejável, garantida, justa e feita para aqueles que fazem o que esperam que eles façam.
Se tudo isso te incomoda, esqueça.
Antes de tudo, foi um desabafo.
Só que um desabafo, posso garantir, de alguém que, apesar dos atropelos e dificuldades ou, por causa deles; hoje se sente muito e muito feliz.
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