OS OLHOS:
Não têm, claro, a mesma expressividade dos olhos humanos, mas falam bastante ao nosso intelecto.
Um cão sempre sabe quando você está olhando para ele. Sabe também quando você ou outro animal está tentando evitar o olhar direto. Pelo olhar, seu cão sabe se você o está encarando, enfrentando ou indagando.
O ato de encarar, para um animal, representa o desafio máximo, o enfrentamento. Assim pode-se fazer um teste de temperamento só olhando dentro dos olhos do cão. Por outro lado, você também pode saber, pela maneira de olhar, se o cão está tranqüilo, excitado, calmo ou irritado... se vai ou não morder.
Certas raças têm, até no padrão, a definição de “olhar suplicante”. Esse “olhar de tadinho”, que consegue “comprar” qualquer dono incauto, tem um poder de sedução inimaginável, inclusive entre os animais. Quando o cão olha para você e inclina a cabeça para um lado e depois para o outro, tentando entender o que se está falando com ele... não há quem resista.
E aquele jeitinho de olhar, entremeado com uma lambida nos beiços, quando a gente está comendo?
Olhar fixo – o cão está muito interessado.
Olhar sonolento – o cão está muito pouco interessado.
Olhar de soslaio - o cão, desconfiado, não consegue olhar diretamente nos olhos.
Olhar de baixo para cima – o cão está desconfiado. Quando deitado, com a cabeça entre as patas anteriores, é um olhar de preocupação e expectativa pelo que poderá acontecer.
A BOCA:
As funções e a expressividade da boca dos canídeos é completamente diferente da dos humanos, capazes de articular palavras.
Com a boca, os cães transportam seus filhotes, apanham objetos, destrinçam o alimento e até vocalizam alguns sons.
Como a boca dos canídeos contém sua arma, ferramenta e talheres, um dos gestos mais típicos é o levantar dos lábios para facilitar o uso desses instrumentos. É como, para nós, arregaçar as mangas. Se não os levantassem correriam o risco de morder os próprios lábios.
A comissura labial (canto da boca) tem uma importância capital na expressividade dos lábios. Quando seus músculos se contraem, como no uivo, revelam insegurança.
Levantar ligeiramente os lábios de maneira trêmula e insegura, com a boca quase fechada, exibindo, apenas, alguns incisivos - antes de iniciar o rosnado, o cão demonstra, com nitidez, que algo não está lhe agradando e está lhe aborrecendo.
Levantar os Lábios, com a boca entreaberta, exibindo incisivos, caninos e algumas rugas na cana nasal - às vezes acompanhado de rosnado, é um indício evidente que está no seu limite de controle e que alguma reação está por se completar.
Levantar os Lábios exibindo inclusive as gengivas, com rugas acentuadas na cana nasal - é o último gesto antes de morder. Nesse momento, se o adversário abaixar o olhar e virar a cabeça, afastando-se lentamente, o enfrentamento cessa instantaneamente.
A CAUDA:
É uma fantástica fonte de informação para que possamos perceber seu estado emocional:
quando alegre, balança junto com a garupa;
quando excitado, vibra como um diapasão;
quando aflitiva, balança rápido, mas descoordenada, com a garupa, esbarrando em tudo que está por perto;
cauda empinada, imóvel, cão em atenção.
Ressalvando os cães cujo porte da cauda é uma das características de sua raça, o posicionamento é um importante indicador de suas emoções.
Portar a cauda quase horizontal, apontando direto para trás - posição característica dos cães de caça de aponte. Revela a descoberta da presa.
Portar a cauda ligeiramente acima da horizontal - cão excitado em situação de disputa de liderança ou iniciando o jogo de sedução que precede o acasalamento, normalmente a cauda treme ligeiramente.
Portar a cauda a 45º, entre a horizontal e a vertical - semelhante ao porte ligeiramente acima da horizontal, mas com total autoconfiança. Normalmente utilizada para desfilar após ter ganhado a disputa da liderança.
Portar a cauda erguida na vertical e ligeiramente encurvada para a frente: semelhante ao porte em 45º, também com total autoconfiança. Característica dos cães dos terrieres e dos sabujos.
Portar a cauda pendente, oscilando lateralmente: revela tranqüilidade, normalmente usada quando o cão está relaxado.
Porte pesadamente pendente, sem oscilar: o cão está inseguro quanto ao está para acontecer... uma disputa de liderança, um invasor muito próximo...
Colocar a cauda entre as pernas - revela muito medo. Nesta situação o cão pode urinar-se, ficar absolutamente sem reação ou tentar esconder-se.
Abanar ligeiramente a cauda - quando o cão está feliz, recompensado com a atenção reivindicada.
Abanar fortemente a cauda - revela alegria, felicidade intensa, quando o cão está brincando. Brincadeira de cachorro é brincadeira de pegar, brincadeira de luta.
Abanar lentamente a cauda, ligeiramente erguida - gesto observado quando você está pacientemente tentando explicar algo, o cão está atento, mas sem entender. Foi observado também que, quando o cão entende, muda o ritmo do balanço (Stanley Coren).
Ao contrário do que muitos autores sugerem, o abanar da cauda não tem a intenção de comunicar algo.
É uma reação instintiva que revela satisfação e alegria diante de um estímulo prazeroso. Como normalmente um estímulo prazeroso é sempre oferecido por outro animal e, por isso, jamais acontece quando o cão está desacompanhado, a interpretação desse gesto pode ser erradamente conduzida para um sinal de agradecimento.
Sinais, gestos e rituais:
A expressão corporal é uma das formas de comunicação muito usada tanto pelos cães quanto pelos treinadores, tentando comunicar-se.
Nós, humanos, temos uma certa facilidade de interpretar certos movimentos da cauda e das orelhas, posição do dorso, expressão dos olhos e alguns trejeitos da boca.
A expressão corporal revela uma infinidade de coisas diferentes. Mais uma vez, os assuntos principais são sociais.
Ficar empinado, com membros rígidos, movimento lento à frente e em curva, com as orelhas dobradas para trás: ritual de estudos dos contendores durante o desafio pela liderança. Normalmente um se movimenta em direção à cauda do outro.
Ficar empinado, corpo levemente inclinado à frente e orelhas dobradas para trás: o combate é iminente.
Ficar imóvel, olhar fixo num ponto (presa), com a frente levemente mais baixa e orelhas dobradas para trás - ritual de caça – está pronto para dar o bote e atacar.
Arrepiar os pêlos na cernelha (ombros) e garupa - o cão está com muito medo. Sua reação vai depender diretamente do nível de coragem para enfrentar esse medo.
Ele poderá partir para o enfrentamento, baixar a cabeça e render-se ou fugir.
Deitar sobre o dorso e dormir de barriga para cima (decúbito dorsal) – revela segurança, tranqüilidade, paz e confiança nas pessoas e no ambiente em que se encontra.
Deitar enrolado sobre si mesmo como se estivesse tentando abraçar a cauda e as patas - o cão está com frio, procurando aquecer as extremidades.
Deitar de bruços com a barriga totalmente encostada no solo, todo esticado e com as patas para trás (decúbito ventral) - o cão está com calor, procurando refrescar a barriga.
Rodar em torno de si próprio e olhar para o solo - ritual atávico antes de defecar ou para deitar-se. Na floresta o lobo roda para amassar o mato antes de defecar, evitando assim que um galho ou fiapo de capim o incomode no momento supremo. O cão está, instintivamente, amassando o mato para afofa-lo (mesmo em piso de cimento) para deitar ou para evitar o fiapo de capim.
Gestos e atitudes:
Lamber – é o gesto canino comparável ao nosso beijo. Revela o nível do afeto que o cão lhe dedica, revela também o reconhecimento de alguma atitude sua. Agradecimento.
Cutucar com o focinho – essa atitude revela uma tentativa de conseguir sua atenção, um pedido de afago na cabeça ou uma boa coçada nas costas ou no peito. A cutucada com a patinha tem quase a mesma conotação. É uma das formas de comunicação mais semelhantes à nossa cutucada.
Cutucar com as patas – normalmente de duas em duas. Pode ser na nossa perna, ou se estivermos deitados, em qualquer lugar. Os cães, com esse gesto, estão quase que exigindo nossa atenção. Se essa cutucada for na porta, tem a mesma conotação da nossa batida na porta: permissão para entrar ou sair.
Pisar no seu pé – quando você estiver adestrando o seu cão, em determinado momento ele pisa seu pé e permanece pisando. Com isto ele estaria aceitando a sua liderança.
Morder o calcanhar – é uma reação típica do cão em atitude de brincadeira, querendo que você não vá embora. Se ele morde o calcanhar é porque você está de costas para ele.
Puxar a guia com os dentes – tomar a guia pelos dentes e puxar, também tem uma conotação de brincadeira de cabo de guerra. Se você puxar também para tomar a guia de volta, no entendimento do cão, você acaba de aceitar a brincadeira.
Abaixar a frente, com as patas anteriores estendidas, garupa para cima e a cabeça próxima ao solo - convite à brincadeira, com esse gesto o cão parece dizer - você não me pegaaaaa. Qualquer movimento do outro cão ou pessoa ele sai em disparada dando voltas em torno como se desafiasse você a pegá-lo... seu cão está querendo que você corra atrás dele. Muitas vezes essa atitude é confundida com falta de respeito e muitos cães apanham por querer brincar.
Lamber o focinho do outro cão – é um ritual de submissão. Quer dizer, mais ou menos: deixa disso amigo, vim em paz não quero brigas...
Cheirar a genitália do outro cão – é um ritual de conhecimento, através do cheiro do sexo eles sabem se devem ou não prosseguir com a disputa da liderança ou, se o outro permitir, funciona como uma apresentação.
Virar de barriga para cima – ritual de submissão e liderança. Oferecer o ventre é o mesmo que se render. Aceita o outro como líder sem discutir.
Colocar a pata no pescoço do outro cão – é um gesto de assunção de liderança, desafio. Se o outro aceitar reconhece a sua superioridade. Se não aceitar haverá a disputa.
Colocar seu queixo sobre o pescoço do outro cão – tem a mesma conotação de colocar a pata no pescoço.
Montar sobre outro cão de mesmo sexo – dentro dos rituais de submissão e apaziguamento é o mais importante e mais definitivo. Se o outro permitir é considerado submisso. Caso contrário haverá uma disputa da liderança.
Levantar a patinha para urinar – todo mundo pensa que é sinal de masculinidade, de passagem para a puberdade. Na realidade, só o macho levanta a patinha para urinar em razão de própria estrutura anatômica. Se não levantasse a patinha o macho urinaria nas próprias patas anteriores, como o faz o bode, razão do seu cheiro. Os cães procuram uma árvore para servir de anteparo para que a urina escorra sem molhar suas patas anteriores e, para conseguir urinar na árvore têm que levantar a patinha. As fêmeas não precisam disso, pois se abaixam para urinar, quase encostando os pêlos da ponta da vagina no solo. Esses pêlos conduzem o líquido, impedindo que espirre.
Urinar sobre a urina do outro cão – é a forma que um cão tem de desafiar a supremacia do adversário. Como fazem os humanos brigões nas ruas, cospem no chão sobre a cusparada do outro.
Cheirar o chão - é o passatempo preferido dos cães. É pelo olfato que reconhecem todas as coisas. Usam também cheirar o chão para disfarçar fingindo que está ocupado, exatamente, como nós quando assobiamos. Esse gesto tem dois objetivos:
1. Sondar, procurar ou pesquisar o terreno em virtude de algum aroma que achou interessante.
2. Quando está com o dono, disfarçar, mostrando-se interessado em algo que não seja ele. Corresponde, mais ou menos, à nossa atitude de assobiar olhando para diversos pontos acima.
Deitar de lado e abrir as pernas exibindo o ventre - submissão e apaziguamento. O cão está tentando pacificar os ânimos revelando que não deseja lutar.
Colocar a cabeça ou a pata sobre o pescoço ou dorso de outro cão - ritual de submissão. Trata-se de uma espécie de teste. Se o outro cão permitir ele será o dominador. Se não permitir, ele pode desistir ou partir para a luta corporal.
Abaixar a cabeça e lamber de baixo para cima, insistentemente, o focinho de outro cão - ritual de submissão e apaziguamento. É um pedido de desculpas, de trégua, de arrego.
Dar a patinha - também, é uma maneira de solicitar paz e um gesto amistoso de apaziguamento.
Esfregar a pata anterior na própria cabeça, passando-a na orelha ou olho - o cão está tentando remover algo que o incomoda.
Cheirar um determinado local e, em seguida, esfregar o focinho e a cabeça nele - comportamento atávico de defesa contra picadas de insetos. O cão está tentando transferir o cheiro, normalmente ruim, para si objetivando sua proteção. É bom esclarecer que o cão não tem consciência da finalidade deste comportamento, mas sente uma necessidade incontrolável em fazê-lo.
Deitar-se na lama e chafurdar como se um porco fosse - comportamento atávico de proteção contra grandes felinos. Uma técnica usada pelos afghan-hounds para realizar o combate contra tigres e leões. Depois que seca, a lama mesclada aos pêlos se transforma numa carcaça impenetrável pelas unhas das garras dos felinos. Outras raças herdaram esse comportamento.
Cavar buracos para deitar-se dentro - o cão está com calor e cava para encontrar uma camada de terra mais fresca.
Cavar buracos para enterrar um osso - é um processo duplo:
1. esconder o osso dos outros para come-lo, tranqüilamente, mais tarde.
2. promover a maturação da carne nele contida. (Na França, costuma-se enterrar bifes por uma semana para que fiquem maturados para depois servi-los)
Cavar buracos para enterrar as fezes - este gesto atávico, ao contrário do que alguns autores sugerem, não é uma medida higiênica e sim, um processo ecológico. O equilíbrio da natureza exige que as fezes sejam enterradas para fertilizar o solo.
Mordiscar - é um ato afetivo, carinhoso. Os cães gostam de brincar com nossas mãos. Eles têm um fascínio especial por elas.
Os cães não têm mãos. Eles pegam e manejam as coisas com a boca, assim o ato de mordiscar sem machucar é um gesto de carinho.
Enfiar sua cabeça sob a mão do dono - está pedindo carinho. Este gesto é muito comum e quase todo dono de cachorro já teve essa experiência.
Colocar a pata sobre a perna do dono - está pedindo um pouco de atenção. Ele pode estar querendo comunicar-se..., pedir alguma outra coisa, ir na rua, beber água, fome etc.
Sentar-se com uma das patas anteriores levemente levantada - esse gesto é típico de quem está querendo se comunicar. Está tentando dizer que quer que você pare com o que estiver fazendo porque está inseguro.
Urinar - gesto carregado de significados outros além daquele da simples necessidade fisiológica. Urinando, o cão pode estar marcando seu território, desafiando um adversário, deixando seu rastro para as fêmeas ou expressando seu desprezo.
Os machos urinam para demarcar seus limites, como nós fazemos quando riscamos uma linha no chão ou colocamos uma cerca, um muro.
Urinam, também, sobre a urina de outros machos para desafiá los e para sobrepor seu odor ao deles. Urinam sobre a urina de fêmeas para convidá las ao jogo. Às vezes urinam até sobre outro cão para mostrar superioridade hierárquica e desprezo.
Já vimos cães urinarem sobre de seus próprios donos por prazer e por desafio.
Defecar - além das necessidades fisiológicas, as fezes têm uma conotação de desaforo, má criação e pirraça (ética humana).
Há cães que ficam tão aborrecidos por seus donos terem saído sem levá los que defecam sobre a cama do casal.
Só falta falar...
Estas formas talvez rudimentares de linguagem removem o cão da sua tradicional classificação de animal irracional. Já não se pode dizer: “Meu cão só falta falar!”.
É claro que os cães jamais irão falar como um ser humano, mas já está óbvio que existe um conjunto enorme de elementos que nos fornecem a certeza de que os cães possuem uma forma de linguagem.
Somos nós que conseguimos ou não compreender o modo canino de se expressar, de se comunicar com o mundo, com os outros animais e conosco.
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