quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Pai

Nunca pensei em te escrever uma carta, mas eis-me aqui, esparramando-me em ideias soltas.
Gostaria que pudéssemos estar juntos agora.
Provavelmente eu nem conseguiria dizer nenhuma palavra dessas que escrevo. Aqui eu sei, meus olhos não são visíveis, minha emoção, imperceptível; camufladas pela composição das linhas que se seguem.
Deleito-me nessas frases, para descrever minha saudade, relatar a falta que sempre senti da sua presença.
Em muitas situações, quis correr e refugiar-me em seus braços, e me aninhei no vazio que me consome a lembrança. Quantas noites, no silêncio do meu íntimo, sinto sua presença, ausente, por todo o meu eu; como num filme, as cenas da história da minha vida sem você, passam e em cada novo acontecimento, uma nova lágrima.
Putz... que saudade.
Quem dera, eu tivesse o dom de te buscar de volta pra mim, sem tempo de permanência. Quem dera eu pudesse, usufruir dos seus raros afagos, hoje, em meio aos pintadinhos... pai, o Jacinto é a sua cara!
Quanto sorriso perdido, quanto passeio adiado, quanto abraço desviado... essa saudade jamais sara, aperta no peito e escorre pelos olhos.
Definitivamente não consigo compreender os desígnios de Deus.
Mas sei que você está bem, eu sei.
Orgulho-me ser seu filho, meu sangue é seu sangue e, mesmo que não fosse, aprendi o que me ensinou.
Tanto quanto eu, suas filhas, deveriam se orgulhar por serem parte de você. Sementes cuidadosamente plantadas no solo da vida.
Sua herança é valiosa e será levada por gerações, de uma forma ou de outra, não importa.
Sua lembrança é viva, a cada dia que amanhece, uma gota de saudade escorre pela minha história, marcando o passado, o presente e respingando em todo o futuro.
Escrevi esta carta... de coração para coração, porque não há, pai, distância que me separe da sua alma e nem tampouco arranhe o amor que cultivo, de nós dois.
Fortão pai... lembra? Em breve nos veremos.

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