Vou viver o dia de hoje como se fosse o último da minha vida, como se eu não fosse ter um amanhã.
Assim, darei muitos sorrisos, espalharei muita alegria e nada de lágrimas.
Tentarei correr até as pessoas que estão distantes de mim e que me fazem tanta falta, que seja apenas para abraçá-las.
Falarei das minhas mágoas com quem as causou, mero desabafo para aliviar a minha alma, e falarei de amor com aqueles que me amaram, que me quiseram bem, que me valorizaram.
Deixarei o sol queimar a minha pele, naturalmente, sem preocupação em adquirir manchas e possíveis doenças. Tanta preocupação com filtro solar... Quero que cada raio de sol penetre tão profundamente na minha pele que consiga alcançar e aquecer meu coração.
Vou reunir as pessoas que não gostam de mim e dizer-lhes que jamais desgostei delas, que talvez apenas elas não tenham me conhecido o suficiente a ponto de poderem me julgar negativamente... ou que estão certas.
Para os meus amigos eu direi, simplesmente, obrigado, por tudo que fizeram por mim, pelo carinho que me dedicaram, pela atenção que me deram, pelo apoio incondicional nas horas em que eu mais precisei.
Vou dar o perdão para aqueles que erraram comigo e desejar de coração que sejam felizes.
Ao cruzar na rua, com aquele sujeito que anda carregando um saco cheio de latinhas catadas, vou puxar assunto, perguntar como ele está e lhe darei um bom dia especial.
Quem sabe eu pegue três bolinhas e fique embaixo de um sinal fazendo malabarismo para com isso conhecer um outro lado da vida.
Vou visitar uma favela, conhecer todos os seus becos e cumprimentar pessoas tão diferentes e, também, tão iguais a mim.
Vou pegar um ônibus no ponto final, sentar na janela e rodar toda a cidade observando suas discrepâncias.
Vou achar um parque de diversões e andar na montanha russa e na roda gigante. Quero sentir primeiro a adrenalina e depois provar de um calmante.
Irei ao hospital, darei carinho e direi palavras animadoras para quem estiver sofrendo.
Talvez eu faça uma visita ao presídio para dar um alô a tantos que padecem por ali por não terem dado rumos dignos à suas vidas.
Vou querer dizer algumas palavras às mães. Direi à elas que o futuro de seus filhos depende, dentre outras coisas, da educação e do carinho que eles receberem delas.
Pedirei aos pais que não se ausentem, que não imaginem que tudo que se relaciona com seus filhos as mães podem resolver. Mães muitas vezes precisam de socorro e os filhos, do pai.
Tentarei mostrar aos deprimidos, infelizes, àqueles que padecem de doenças incuráveis, que muito do que sentem pode ser controlado por eles mesmos, basta acreditar na vida e na sua capacidade de enfrentá-la.
Avisarei aos 'poderosos' que tudo aqui é tão passageiro e que quando eles menos imaginarem estarão lado a lado com aqueles que eles espezinharam, maltrataram, feriram e humilharam e que por isso vão se envergonhar de no final, tanto poder não ter valido de nada.
Não existem pessoas melhores ou piores, existem as que lutam para ser melhores e as que fazem questão de ser piores.
Vou pedir perdão, não sei exatamente a quem, mas com certeza existem muitos que gostariam de ouvir da minha boca - Me perdoa?
Vou querer sentar uma última vez num bar e tomar uns chopes com aquela pessoa especial que faz as horas parecerem minutos sempre que nos encontramos.
Vou procurar meus antigos relacionamentos e dizer a eles que eu fiz tudo que estava ao meu alcance pra dar certo, que eu dei o melhor de mim e que embora alguns não tenham merecido eu não me arrependo de ter agido assim.
Vou me desculpar por, em certo momento da minha vida, ter me tornado um pouco egoísta e ter começado a cuidar mais de mim do que de outras pessoas.
A vida me ensinou alguma coisa.
Direi a todos que se aproximaram de mim com o intuito de me usarem, de me sugarem que, hoje eu sei exatamente quem são e por isso tenho o cuidado de me proteger de energias tão negativas evitando me reaproximar delas e dos seus.
Vou confessar, finalmente, que eu nunca fui a fortaleza que pretendi demonstrar ser. Meus defeitos, fraquezas, carências, necessidades, urgências me atordoam a cada vez que alguém se aninha no meu colo, em busca de segurança ou apoio.
Serei encantado pelos meus cães, novamente e de novo, e, se eu fui uma pequena parcela do homem que eles pensam que eu sou, vou agradecê-los por terem me feito assim.
Minha esposa... meu amor, a ela não direi nada, ela sabe de tudo. Sabe de mim, melhor do que eu mesmo. Um olhar, um beijo, um afago.
Ao final do meu dia conversarei com Deus, pedirei a Ele que se possível me arrume um cantinho aconchegante lá em cima e meu argumento para que Ele atenda ao meu pedido será explicar que eu sei que não fui o melhor ser humano do mundo, mas que pelo menos eu tentei ser alguém que passou pela vida e deixou uma marca positiva na maioria dos corações.
Amanhã, renascido, continuo a viver uma vida completamente nova.
Vivi meu último dia de vida.
Como todos os outros.
Pensando bem, porque haveria de ser diferente?
Ri, chorei, morri de saudades e, consegui fazer mais alguém rir.
Não me declarei a quase ninguém, pelo menos em palavras.
Afetos e desafetos, continuam como ontem. Alguns, talvez, mais exaltados.
Assumi definitivamente minha falta de grandeza para perdoar os que machucam os meus queridos.
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