Havia a levíssima embriaguez de andarmos juntos, a alegria de sentir a garganta um pouco seca e ver que por admiração estava de boca entreaberta, respirando de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água.
Andávamos por ruas e sonhos falando e rindo, falávamos e ríamos para dar matéria ao tênue torpor que era a alegria dessa sede. Por causa dos carros, pessoas e alguns pesadelos, às vezes nos tocávamos sem querer, e ao toque brilhava o brilho da água, a boca ficando um pouco mais seca, de cumplicidade.
Pensávamos que, porque queríamos, era possível. Defeitos, todos os têm, não é mesmo? Diferenças podem acrescentar, não podem? Então...
Eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava.
Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente.
Porque eu, só por ter tido enorme carinho, pensava que amar era fácil.
E o tempo passou. E o tempo destrói quase tudo. Bastava querer, não é mesmo? A+B=C.
Como eu gostava de estar junto! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando não puderam haver mais abraços, afagos e olhares.
É fácil lembrar das palavras, difícil é suportar os silêncios!
Aprendi então que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue.
Tudo, tudo por não estar mais distraído, preocupado em 'dominar a situação' me esqueci de me esquecer.
E o fim, já previsto, é a saudade, lágrima já esperada que não é capaz de matar a sede.
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